Variações / Eugénio de Andrade (1923 2005)
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Eugénio de Andrade, “A Jorge Peixinho”
Espólio Eugénio de Andrade, M-EA-105[1]
Biblioteca Pública Municipal do Porto
Eugénio de Andrade, “A Jorge Peixinho”
Pequeno Formato, Porto: Fundação Eugénio de Andrade, 1997, p. 65
Biblioteca Nacional de Portugal
O poeta registra, num flash da sua escrita, a importância da música na própria obra. Era tão absoluta quanto o foi para Jorge Peixinho. Na homenagem propõe a construção do silêncio, a “aragem fria de tão nua”. As variantes demonstram a busca de uma métrica e um ritmo próprios, aqui expressos no terceto epigramático. Constata-se o trabalho do autor em ação, no seu laboratório genético, como em tantos outros exemplos do seu arquivo. Na escolha cirúrgica da palavra exata, nada existe para além ou aquém do poema que basta a si próprio.
No manuscrito, o segundo verso apresenta duas rasuras ilegíveis que denotam a busca do poeta pela forma sintética a definir a música final, que é o silêncio.
Na parte de baixo do documento aparece uma sequência de variantes para a qualificação daquela música “nua” (v.2):
nua
inabitável de tão fl [ilegível]
agora para sempre e sempre tua.
quase fria de tão nua:
aragem fria de tão nua:
solidão fria de tão nua: