Variações / O trabalho da lima / 15
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Francisco Manuel de Melo, “Dedicatória”, Obras Métricas
Leon de Francia: Horacio Boessat y George Remevs, 1665, p. ã 3
Biblioteca Nacional de Portugal
Francisco Manuel de Melo, “Carta XII”, Primeira parte das Cartas Familiares
Roma: Filipe Maria Mancini, 1664, p. 159
Biblioteca Nacional de Portugal
Francisco Manuel de Melo entregou-se, ao longo da vida, a um exigente trabalho de revisão, sem sacrificar o apuro da escrita à copiosa dimensão da sua obra. Dão testemunho da procura de aperfeiçoamento e correção alguns autógrafos de D. Francisco, que nos chegaram com reformulações do que antes compusera, e também solicitações de emendas que dirigiu a outros cultores das Boas Letras. Em consequência do seu empenho em aperfeiçoar quanto escrevia, trouxe a público, em novas impressões, versões alteradas de textos já antes saídos dos prelos. Tal sucedeu com as Musas portuguesas, que o autor publicou nas Obras métricas (Lyon, 1665). Com efeito, nesse acervo poético em português, várias composições, de que se conhecem versões anteriormente impressas com obras de outros autores, apresentam-se com variantes. É o caso dos sonetos XXXVI, XCV e XCVII e da ode V. Variação textual de elevado grau verifica-se na “Dedicatória que se achou com estas obras manuscritas”, em prosa, estampada em páginas preliminares das Musas (ã 3 r - ã 3 v). Este texto foi objeto de uma primeira publicação nas Cartas familiares, I Parte (Roma, 1664, pp. 159-160). Ao ressurgir um ano depois, vem modificado em cerca de 40 lugares. O autor remodelou frases, alterou, dispensou e adicionou vocábulos. Na segunda metade do texto foram acrescentados dois trechos, um deles com mais de 60 palavras. A maioria das variantes detetadas correspondem certamente a intervenções por insatisfação com a redação precedente (datada de 1648 nas Cartas familiares). Algumas outras decorrerão de circunstâncias do contexto sociopolítico em que a "Dedicatória" reaparece em 1665, entre elas a elevação do estatuto do dedicatário, que explicará o tratamento de “V. S.” (“Vossa Senhoria”), em vez de “V. M.” (“Vossa Mercê”), dado antes.