Variações / Século XVIII / 21
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Desconhecido, Entremez de Santo António
Real Mesa Censória, número 2309, [séc. XVIII], f. sem número
Arquivo Nacional Torre do Tombo
Desconhecido, Entremez de Santo António
Real Mesa Censória, número 2309, [séc. XVIII], f. sem número
Arquivo Nacional Torre do Tombo
Trata-se de um caso raro de sobrevivência na transmissão textual portuguesa: um conjunto de partes (papéis) de actores, copiadas por um profissional, que contêm o texto corrido de cada personagem (as réplicas), onde se intercalam, assinaladas com sublinhado, as "deixas" que antecedem o texto a proferir por aquela personagem naquele momento da peça teatral. São cinco personagens: um Poeta, um Marujo, um Estrangeiro, uma Velha e uma Dama ou um Doutor. Esta alternativa pode dever-se a uma atitude pragmática decorrente da composição da companhia dramática com mais ou menos elementos de cada sexo, encontrando-se o texto preparado para as duas eventualidades, como se pode observar.
O D inicial da palavra que nomeia a personagem facilita a troca e a variação textual acontece no interior dos versos. Normalmente um quadrado ou elipse indicam partes do texto a omitir ou alterar para efeitos de métrica e de rima. Na imagem 1, o texto está inicialmente previsto para um elenco com a personagem Dama, sendo a ela que se dirige o Poeta. Na alternativa para um elenco com o Doutor, está assinalada no verso 1 das duas réplicas iniciais a omissão do a final em “senhora”; e no 4.º verso da primeira estrofe a omissão de «mais». Note-se também a alteração em função da métrica de sete sílabas e da rima, como no caso da transformação de “Eu desejara, senhora, // mais resplandece agora” em “Eu desejara, senhor, // resplandecesse melhor”.
As variações incluem, ainda, a adição de texto, sempre com o propósito de regularização de métrica e rima. No início da segunda réplica, em letra menor, acrescenta-se o advérbio “sim” de modo a recuperar a sílaba métrica desaparecida com a supressão da letra final de “senhora”, quando se adequa o género ao destinatário (“Falais, senhora, verdade” → “Sim, falais, senhor, verdade”).