A ode deste heterónimo de Fernando Pessoa, Ricardo Reis, vem acompanhada por uma nota autoral dactilografada que é inesquecível para quem utiliza, nas edições que prepara, o conceito de “variante” e se interessa pela dinâmica de transformação textual através do estudo da variação. Essa nota diz “var. da ult.” e precede duas variantes do último verso, provando que Fernando Pessoa não deixou apenas textos com variantes acidentais, como quem deixa alternativas para um texto em aberto que talvez venha a fechar depois, mas variantes propositadas, pertencentes de forma mais integral a um texto que não teve fechamento, ou melhor, que não foi necessariamente escrito, pelo menos na fase em que o conhecemos, para ter esse fechamento (que acaba por ser um artifício editorial). Este poema, que começa “Que mais que um ludo ou jogo é a extensa vida”, e que terá três estrofes, já foi editado de várias formas: em algumas edições, por exemplo, surge Lydia no sexto verso. O documento permite imaginar a variação textual no tempo, depois da morte do autor, pois abre possibilidades para múltiplos estabelecimentos do poema. Em casos como este, tanto o ponto de partida como o ponto de chegada são plurais.